Reescrever: a temível necessidade que todo escritor passa uma vez ou outra
Reescrever. Ah, esse irritante momento em que você tem que rever todos os passos já feitos. Sentir de novo o que seus personagens sentiram em determinados momentos, consertar frases que não se encaixam mais…
Pra mim, há dois tipos de reescrita: a primeira é quando você precisa acrescentar ou tirar algo da história e, por causa disso, precisa reescrever tudo o que já escreveu, adaptando as novas ideias. A segunda é quando o foco da reescrita está no estilo narrativo. Escreveu tudo em primeira pessoa e se arrependeu? Ou quer testar um novo estilo de escrita que você experimentou enquanto escrevia um conto e acabou gostando? A história continuará a mesma coisa que antes, apenas a forma como ela está sendo contada que mudará.
Eu já fiz os dois. Em diferentes textos e no livro que estou escrevendo agora. Quando comecei a escrever, o estilo narrativo que optei por usar era o mais usado em romances: narrativa no passado. Era o que mais me sentia confortável em escrever e nem pensei muito nisso. Depois de uns oito meses, fiquei pensando em como seria escrever uma história grande no presente. Já havia escrito um conto uma vez dessa forma e tinha gostado bastante do resultado.
Então resolvi testar nos primeiros capítulos.
Alguns minutos depois e eu já não via mais sentido em continuar contando a história no passado. Escrever no presente é um desafio e tanto! Várias vezes me vejo tentando lembrar como é tal verbo no presente do indicativo, ou até mesmo se é correto usar o passado em determinado momento. Porque isso é escrever no presente.
Os acontecimentos presentes da história não são contados da mesma forma como algo que aconteceu poucos minutos atrás. Pra que usar todos os verbos no presente, como se tudo estivesse acontecendo agora, se não está tudo acontecendo agora? Além de que, para mim, escrever se torna muito mais mágico quando não é preso a um padrão, seja ele qual for.
A segunda reescrita que o meu livro sofreu (ainda está sofrendo, na verdade) é a reescrita na história. Comecei ela como uma história de fantasia; o fator viagem no tempo era algo apenas fantasioso, mas depois de vários capítulos, comecei a perceber que a história podia ter um teor mais científico, mais moderno. E eu queria fazer isso.
Essa segunda reescrita não foi tão complicado quanto a anterior, por mais bizarro que pareça, porque eu só precisei dar mais atenção ao que a história estava me dizendo, e não ao que eu achava que ela estava me dizendo.
A história se passa em Chawon (um mundo criado apenas para essa história e esses personagens). E Chawon não é um mundo medieval, ao contrário do que eu pensava. É um mundo que está em transição, escorregando das garras do medievalismo e abraçando a tecnologia. Por todas as terras desse mundo, as características das duas fases se misturam; em alguns momentos da história um deles se destaca, afinal é uma história com viagem no tempo.
E não teria a menor graça escrever uma história com viagem no tempo sem fugir da cronologia do mundo.