BASTIDORES DA ESCRITA: Uma pequena grande mudança

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Desde que eu tive a primeira ideia, várias vezes fiquei em dúvida se As Teias de Chawon iria ser uma duologia ou uma história de volume único. Queria que fosse uma duologia por ter coisas demais no planejamento para caber num único livro. Iria acabar ficando superficial, e isso é algo que eu realmente não vou aceitar. Queria que fosse uma história de volume único porque eu sentia que a história do Lukas e da Diana iria dar mais certo se acontecesse num só livro.

E, de certa forma, consegui transformar as duas vontades numa só.

E a culpa é de um mapa. Continuar lendo

BASTIDORES DA ESCRITA: Reescrever

Reescrever: a temível necessidade que todo escritor passa uma vez ou outra

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Reescrever. Ah, esse irritante momento em que você tem que rever todos os passos já feitos. Sentir de novo o que seus personagens sentiram em determinados momentos, consertar frases que não se encaixam mais…

Pra mim, há dois tipos de reescrita: a primeira é quando você precisa acrescentar ou tirar algo da história e, por causa disso, precisa reescrever tudo o que já escreveu, adaptando as novas ideias. A segunda é quando o foco da reescrita está no estilo narrativo. Escreveu tudo em primeira pessoa e se arrependeu? Ou quer testar um novo estilo de escrita que você experimentou enquanto escrevia um conto e acabou gostando? A história continuará a mesma coisa que antes, apenas a forma como ela está sendo contada que mudará.

Eu já fiz os dois. Em diferentes textos e no livro que estou escrevendo agora. Quando comecei a escrever, o estilo narrativo que optei por usar era o mais usado em romances: narrativa no passado. Era o que mais me sentia confortável em escrever e nem pensei muito nisso. Depois de uns oito meses, fiquei pensando em como seria escrever uma história grande no presente. Já havia escrito um conto uma vez dessa forma e tinha gostado bastante do resultado.

Então resolvi testar nos primeiros capítulos.

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Alguns minutos depois e eu já não via mais sentido em continuar contando a história no passado. Escrever no presente é um desafio e tanto! Várias vezes me vejo tentando lembrar como é tal verbo no presente do indicativo, ou até mesmo se é correto usar o passado em determinado momento. Porque isso é escrever no presente.

Os acontecimentos presentes da história não são contados da mesma forma como algo que aconteceu poucos minutos atrás. Pra que usar todos os verbos no presente, como se tudo estivesse acontecendo agora, se não está tudo acontecendo agora? Além de que, para mim, escrever se torna muito mais mágico quando não é preso a um padrão, seja ele qual for.

A segunda reescrita que o meu livro sofreu (ainda está sofrendo, na verdade) é a reescrita na história. Comecei ela como uma história de fantasia; o fator viagem no tempo era algo apenas fantasioso, mas depois de vários capítulos, comecei a perceber que a história podia ter um teor mais científico, mais moderno. E eu queria fazer isso.

Essa segunda reescrita não foi tão complicado quanto a anterior, por mais bizarro que pareça, porque eu só precisei dar mais atenção ao que a história estava me dizendo, e não ao que eu achava que ela estava me dizendo.

A história se passa em Chawon (um mundo criado apenas para essa história e esses personagens). E Chawon não é um mundo medieval, ao contrário do que eu pensava. É um mundo que está em transição, escorregando das garras do medievalismo e abraçando a tecnologia. Por todas as terras desse mundo, as características das duas fases se misturam; em alguns momentos da história um deles se destaca, afinal é uma história com viagem no tempo.

E não teria a menor graça escrever uma história com viagem no tempo sem fugir da cronologia do mundo.

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BASTIDORES DA ESCRITA: Vida própria

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Uma vez encontrei na internet a seguinte frase da autora Carol Bensimon: “O romance precisa ser domado tanto quanto precisa ter o seu espaço para sair correndo.”

Não importa o quanto um escritor ache que está no total controle da história. Ele está errado. São os próprios personagens que decidem como vão agir, em quais momentos e, às vezes, as razões só são entendidas pelo contador da história muito tempo depois.

Meu romance está atualmente no capítulo onze. O ato 2 começou faz algumas páginas; o que significa que aquele momento chato de apresentar os protagonistas, a situação, o mundo e tal passou. É claro que ainda tem muita coisa pra passar pela fase de apresentação — quem mandou ter muitos personagens, Biaka, hein? —, mas eu não preciso surtar por causa delas mencioná-las ainda. Eu finalmente cheguei no momento do projeto em que os personagens já estão tão acostumados a me perturbar pra deixar a procrastinação de lado e ir escrever (entre outras coisas, como desistir de ter uma boa noite de sono. Afinal, pra que oito horas de sono se você tem tantos filhos pra dar atenção, né?) que eles simplesmente se tornaram mais do que ficção pra mim. Não, essa não sou eu ganhando um passagem de ida pra um hospício.

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Meus personagens são meus amigos. E como é minha obrigação ser leal a eles, eu preciso escrever o que eles precisam passar. Sentir. Independente do que seja. Mesmo que eu não concorde.

Por exemplo: estava eu escrevendo uma cena com três personagens. Para não ficar confuso, vou nomeá-los pelas letras do alfabeto. Personagem A gosta de Personagem B que não gosta de ninguém. Personagem C e Personagem A vão ter um relacionamento, mas não realmente (a não ser que eles me obriguem, porque não está nos planos). Não vai ser um relacionamento amoroso. Vai ser mais uma espécie de amizade colorida. Porque eles são teimosos e assim é mais divertido. No momento, é claro, A e C não sabem disso. Como eu disse lá em cima, A gosta de B. Num momento de brincadeira entre os dois, Personagem C se irrita de repente e briga com Personagem B. Na hora, eu não tinha entendido o motivo da irritação repentina, mas escrevi o diálogo mesmo assim, porque era o que ele me pedia. Depois que eu refleti sobre o que havia acabado de escrever, eu ri.

Meu personagem já estava com ciúmes. Oras, mas ele mal conhecia a Personagem A. Não foi algo que eu planejei e olha que eu amo conhecer os detalhes dos capítulos antes de me jogar neles. Não foi nem mesmo uma característica que eu conhecia do Personagem C.

Viu só? Quando eu disse que eles eram mais do que ficção para mim, foi isso que eu quis dizer. Não me internem num hospício.

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BASTIDORES DA ESCRITA: Apresentação

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Me disseram para escrever um texto introdutório para essa coluna. O nome é auto explicativo, mas vamos lá. Bastidores da escrita. Escrita de quê? De quem? Pra quê?

Calma. Primeira e segunda respostas ao mesmo tempo, porque não vejo sentido em separá-las em dois parágrafos. Olá, meu nome é Biaka Santos. Se você leu a mini biografia lá em equipe, já tem uma mínima noção de quem eu sou. Sou escritora desde que nasci, mas só percebi que pra ser escritor você não precisa publicar livros depois que entrei na faculdade. Eu gosto de escrever contos e romances. Não me pergunte qual deles eu prefiro, porque isso depende muito da história. Alguns personagens precisam de mais de cem páginas para terem suas vidas contadas, alguns precisam de menos de cinquenta.

Então, pra que serve essa coluna?

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